sábado, 1 de janeiro de 2011

O jogo da Terra


Colaborador Roberto Rocha

A reunião era para anunciar a proposta de um grande jogo para poderosos. Estavam presentes representantes dos governos, empresários, religiosos, sindicatos, entre outros. As regras eram as seguintes: a) ninguém poderia sair do jogo até o final; b) era preciso que cada jogador respeitasse o outro; c) não haveria vencedores: os jogadores estavam ali para compartilhar experiências e praticar suas habilidades; d) todas as vezes que alguém tivesse alguma vantagem de pontos ele seria reconhecido, mas teria que dividir o que ganhou com os demais. Logo que foram anunciadas as regras, começaram os comentários: e se eu precisar sair para resolver um negócio importante? E se alguém ofender a minha mãe? Não gostei muito desse papo de trocar experiências! Imagine! Ter queimado meus neurônios durante anos seguidos e depois ficar dando luz para cego! Pior ainda, conseguir uma vantagem e depois dividir com os outros! Que absurdo! Não estou gostando nada disso! Quando os ânimos já estavam exaltados, alguém falou: senhores! O jogo ainda nem começou e vocês já quebraram todas as regras propostas. Realmente não podemos começar nada com esse clima! Um dos convidados, muito bem vestido, perguntou: Afinal, que jogo é esse que não tem vencedor? O anfitrião explicou: joga-se com cartas que representam valores humanos, consagrados pelos filósofos gregos clássicos, desde a antiguidade; e não exatamente os valores econômicos. Compreendo o espanto de todos, porque fomos “educados” nos últimos séculos a pensar somente nos lucros financeiros. Como todos sabem, muitas coisas do passado foram depois reconhecidas como graves erros e equívocos lamentáveis. Mas se vocês desejam realmente algum tipo de prêmio eu tenho aqui, nesta caixa dourada, uma carta que representa um poder jamais visto e que é, realmente, quem controla todos os demais poderes humanos. Todos pararam de discutir por alguns segundos. E um dos candidatos ao jogo, perguntou? E que carta é essa, tão poderosa assim? O anfitrião respondeu: é a Carta da Terra! Nela está desenhado um planeta azul e limpo onde é possível conviver de modo equilibrado; cujas regras existem há bilhões de anos e continuam a funcionar até hoje, ajustando e corrigindo os erros e desrespeitos humanos que temos cometido, em especial, nos últimos séculos. Um outro pretenso jogador disse: mas isso não tem valor comercial! E também não se pode ganhar dinheiro sem causar danos socioambientais! O anfitrião, outra vez, respondeu: Pois bem meus senhores! Essa é a proposta do jogo para o qual foram convidados! Não será nada fácil fazer com que as pessoas se respeitem considerando a diversidade cultural que temos aqui! Também não será fácil discutir valores éticos que suplantem os interesses econômicos imediatistas! Nada será fácil!... Mas o que queriam os senhores, afinal? Um joguinho sem graça? Sem dificuldades? Sem emoções? Sem decepções? Onde está o espírito de luta do qual tanto falam? Só lutam por dinheiro? Metais e papéis? É isso? Por que a realização de cada um não pode estar acompanhada por uma visão mais ampla de mundo? Com equidade? Com a valorização e o uso racional dos serviços ambientais? Com maiores investimentos na preservação de ecossistemas que já estão mais do que espoliados, por exemplo, os oceanos? Podemos investir mais nessa direção! Não se trata, definitivamente, de uma questão ecológica e ingênua. Ela é muito mais econômica do que se pensa! Pode gerar prosperidade ou prejuízos incalculáveis! Senhores: eu os convido a jogar! Mudanças sempre assustam. Mas eu nunca vi um mundo mais assustado como esse que eu vivo agora! Acho que já deveríamos ter mudado há muito tempo! Esse é um bom momento: vamos jogar?...

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