sábado, 1 de janeiro de 2011

Mudança do clima: que clima?



Colaborador Roberto Rocha

Mudanças geram expectativas. Será que vai dar certo? Quando pensamos em mudar, significa que algo atingiu um certo limite, bom ou ruim. Os limites nos acompanham há milhares de anos como criaturas humanas. Inteferiram na evolução dos dinossauros quando o Homo sapiens nem existia. A maré sobe e desce, religiosamente. Os caranguejos sabem exatamente até onde ela vai, sem nenhum alerta ou aparelho tecnológico para lhes indicar o que vai acontecer. Caranguejos são excelentes bioindicadores. Lagartas, besouros, mosquitos e escorpiões também. A propósito os mosquitos são muito bons nisso. Eles percebem rapidamente qualquer alteração climática. São excelentes aliados nesse sentido. Plantas também percebem as mudanças. Florações fora de época, filhotes morrendo de fome nos ninhos e suas mães desesperadas em busca da larva que não apareceu no mesmo período. Esses sinais me lembram as Sete Pragas do Egito. Tudo isso nos leva a compreender que o planeta tem regras e obedece a todas elas, embora não haja nenhum código ético escrito pelo homem nesse sentido. Ao contrário, as regras humanas – como o próprio nome indica - foram feitas para humanos e não consideram as questões “ambientais”. Se nos entendêssemos como ambiente, seria mais fácil perceber essas nuances. Mas dizem que nós somos “gente” e pertencemos a uma outra categoria especial, que merece um tratamento diferenciado. Por causa disso, colocamos nossos interesse em primeiro lugar, achando que a nossa tecnologia pode resolver tudo, com certa independência. Mal saímos do século XIX – onde os ratos nasciam de panos velhos e trigo bolorento - e já estamos nos habilitando a resolver a questões do planeta. Somos realmente criaturas especiais. Filósofos antigos não estavam interessados em estabelecer regras. Parece que eles já sabiam que as regras já estavam postas e se preocupavam mais em tentar percebê-las do que criá-las. Refletindo e consultando os oráculos a intenção era para captar algo que a “sociedade” não percebia. E não exatamente para um invento puro e simples, conseqüência óbvia do primeiro fato. Os “pensadores” não receberam este nome, por acaso. Eles desejavam saber sobre as nossas inquietações, aspirações e desejos mais íntimos. Sobre a origem da instabilidade do homem e sua busca por segurança. Quando dizemos que existe um “clima”, entendemos que estão ali elementos indispensáveis para despertar sentimentos, valores, emoções. Que sentimentos estão sendo mobilizados com a mudança do clima do planeta? Descaso? Descrédito? Desunião? Não fique tenso, porque também vamos saber em breve qual o “clima” da Conferência de Copenhague (Dinamarca) em dezembro de 2009. Dos sentimentos ali colocados vão depender alguns milhões de pessoas, plantas, fungos, bactérias e ecossistemas inteiros. Estão em jogo não somente vidas constituídas e dependentes ecologicamente falando. Outros sistemas estarão em jogo: o econômico, o social o cultural. Mudanças na temperatura média do planeta, conforme expectativas dos mais renomados pesquisadores, afetam a segurança alimentar, a migração de desabrigados (refugiados ambientais), novos cenários sanitários. A inativação de vastas áreas planas, seja por inundação ou seca, produzem prejuízos astronômicos. Empresas de seguros correm o risco de não poderem honrar seus compromissos por não terem lastro, caso os seus contratantes estejam “quebrados” pelos desastres ambientais. Qual a saída? Mais tecnologia? A mesma que gerou esta situação atual? Uma “nova” tecnologia? Dependente de pesados investimentos em pesquisa e experimentações adaptativas? Quem banca esses gastos? Estamos “catucando” os sistemas de equilíbrio da Terra, sem nos preocuparmos muito com as reações que virão em contrapartida! Estamos “ferindo o planeta” - e ele está sangrando! As soluções apresentadas parecem sugerir que devemos “ferir menos”, mas sem deter a hemorragia! Vamos torcer que a anemia não tenha sido tão intensa e que uma transfusão de sangue emergencial possa tirar o paciente da UTI. A preocupação é que já estamos quase no final do ano, época de festas, grandes estardalhaços, espetáculos pirotécnicos e bebedeiras, no mundo inteiro. Corremos o risco de não haver sangue suficiente nos estoques das emergências – porque as pessoas se esquecem de doar sangue durante esses eventos festivos. A questão é que se a maioria permanecer nesse clima de orgias e insensibilidades, pode acontecer que eles mesmos venham precisar de um atendimento, quem sabe, tarde demais...

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