sábado, 1 de janeiro de 2011

Corredores ecológicos e seus serviços: abrigo, alimento, polinização, fluxo gênico, proteção de encostas, amenidade do clima e filtro atmosférico



Colaborador Roberto Rocha

Quem não conhece uma floresta? Pelo menos de reportagens na televisão você sabe que é um ecossistema cheio de ervas, arbustos, arvoretas e árvores. Certo? Não! Errado ! A floresta é um conjunto complexo - cheio de interações - a maioria delas ainda desconhecida. Dependendo do tipo de solo, do regime de chuvas, da temperatura e da umidade do ar, uma floresta pode ser mais rica ou mais pobre. A questão é que nos ensinaram que floresta é um conjunto de árvores de diferentes espécies, o que é uma definição muito acanhada e que não descreve corretamente o que ela realmente é, em sua variedade. Não existe floresta sem solo, sem água, sem animais que dispersam suas sementes, de polinizadores e tantos outros atores que vivem ali. A floresta é um enigma incrível! Quando falamos de “corredores” a idéia que surge é de “um caminho estreito que liga um ponto a outro ponto”. Será que serve para correr nele também? Fluir? Acho que fluxo é um bom termo, porque lembra fluxo de energia, fluxo de genes. Quanto mais relacionamentos, melhor. Não pode ser uma passarela de flores somente, como se fosse o resultado de um tratamento paisagístico. Na verdade os corredores ecológicos não são feitos para os humanos. Eles são feitos para os serviços dos ecossistemas. As águas do final de cada verão sempre causam transtornos relevantes. Enchentes, alagamentos, escorregamentos, mortes e prejuízos. Corredores devem tratar desses assuntos também. Não podemos separar impactos ambientais dos sociais. O homem já invadiu diversos ecossistemas naturais e não podemos desconhecer essas interferências. Os corredores também podem contribuir para segurar encostas e amenizar os rolamentos de matacões. As raízes de algumas figueiras ajudam a fixar pedras soltas e produzem uma incrível quantidade de frutos para os animais e para o homem. No magnífico livro Figueiras do Brasil, os autores Jorge Pedro Carauta e B. Ernani Diaz (Editora UFRJ, 2002) ressaltam: “as figueiras têm acompanhado o homem desde as primeiras civilizações na Mesopotâmia e no Egito e depois, mais tarde, nas civilizações grega, romana e judaica”. Existem espécies próprias para áreas urbanas e outras que só devem ser plantadas em parques, áreas degradadas e distantes de residências e estradas. Esses vegetais pertencem a família das Moraceas mas quantas outras famílias botânicas também atenção especial? Saúde deve subentender qualidade de vida para todos. Os corredores devem estar livres de produtos tóxicos para que não envenenem os organismos presentes. Do ponto de vista toxicológico é comum se estabelecer níveis de segurança para homens, mulheres e crianças. Potabilidade e balneabilidade: somente para o homem? E a potabilidade para as bactérias do solo? Para os fungos? Qualidade do ar: só para humanos? E para os liquens? E para as bromélias e orquídeas? Alguns animais são ainda chamados de “pragas” - como se eles tivessem alguma culpa de sua função reprodutiva e alimentar. Por causa de um, pagam milhares. Ao se pulverizar drogas químicas que matam “insetos indesejáveis”, os organismos polinizadores também morrem e deixam de prestar seus serviços ambientais. É realmente um crime ecológico. Já existem armadilhas onde fêmeas de mosquitos depositam seus ovos e dos quais saem suas larvas, ficando ali aprisionadas. É um excelente exemplo de “controle biológico” sem prejudicar o sistema como um todo. Enfim, porque estamos falando de tudo isso se o assunto é corredor florestal? A explicação é a seguinte: a implantação de corredores deve ser orientado do ponto de vista “ecológico” e não exatamente paisagístico. No outro dia, soube da existência de duas espécies de árvores (Lauraceae) conhecidas como maçaranduba - Manilkara elata e Manilkara longifolia - do Rio de Janeiro, e que quase ninguém conhece. Se fala muito da maçaranduba da Amazônia mas nada sobre a do Rio de Janeiro. E o tapinhoã (Mezilaurus navalium)? Você já ouviu falar? Pois é, essas espécies poderiam ser mais valorizadas, como tantas outras completamente desconhecidas de nossas próprias terras e estados próximos. Diversificar é a palavra! De preferência usando espécies cujos frutos sejam dispersados por animais. Eles trabalham sistematicamente fazendo esse serviço ambiental de espalhar sementes. Não cobram nada por seus préstimos. É só dar a eles a chance de freqüentar esses ambientes florestais, próximos uns dos outros. Os corredores florestais devem ser caminhos de vida. Quanto mais complexo o corredor, mais útil e funcional ele será. Mais serviços prestará. Conter encostas, filtrar o ar, alimentar animais, amenizar o clima e tantas outras vantagens. Devemos sim prestigiar os corredores ecológicos, enriquecendo-os com o maior número possível de formas biológicas. Corredores de bactérias, corredores de fungos, corredores de cupins, corredores de formigas, corredores de lagartas e de borboletas, de aranhas, e tantos outros organismos, muito mais do que simplesmente de plantas verdes...

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