sábado, 1 de janeiro de 2011

Áreas protegidas : bancos genéticos como solução imediata para a recuperação da insensata devastação florestal brasileira


Colaborador Roberto Rocha

Desde que li o livro “A ferro e fogo” (Companhia das Letras, 1996) de Warren Dean, professor de história na Universidade de Nova York - falecido em 1994 num trágico acidente em Santiago do Chile – tive certeza de que realmente fomos insensatos quando devastamos, durante séculos, a nossa rica biodiversidade brasileira. A epígrafe do livro traduz bem esse clima: “Quem vier depois, que se arranje”. Estimulados e convencidos de que “arrasar” a mata era a solução mais rápida de fazer dinheiro, nos esquecemos que estávamos num país tropical, onde não existe gelo e ameaças de fome, durante meses críticos. Uma bacia hidrográfica pululante de vida aquática, um litoral interminável de frente para um incomensurável oceano, terras ricas protegidas por uma megadiversidade invejável, jamais reconheceriam um ser desnutrido ou infeliz. A robustez de nossos índios “selvagens” atestam a riqueza da terra. A estratégia européia de plantar e colher, com suas próprias mãos, quase tudo de que necessita, não se parece com a milenar cultura de coleta natural de tudo que a floresta oferece sem qualquer custo adicional. Esse equívoco ecológico centenário nos transformou num dos mais vorazes predadores de florestas da atualidade seculovinteana. Hoje, em pleno século XXI, algumas pequenas luzes começam a reconhecer a importância econômica dos serviços dos ecossistemas.

Já afirmamos, por diversas vezes, a ponto de nos tornarmos repetitivos, que não se trata apenas de questões ecológicas e sentimentais que estão sempre envolvidas nesses embates. É sim, pura necessidade de bem-estar material e mental para as futuras gerações. Não é um cenário para as gerações de idosos da atualidade porque muitos deles não verão os frutos das mudas e sementes que estão sendo plantadas hoje, mas seus netos poderão conhecê-las. Eu, que fui avô recentemente, fico imaginando: quando será que minha neta poderá admirar uma frondosa castanheira ou um jequitibá esplendoroso, plantados agora, ainda de muda ou de semente?. Quantos anos se passarão - para que como ela -, cresçam fortes e cumpram o seu papel no mundo?

Um dos passos nesse sentido é a recuperação de áreas degradadas das margens dos rios, onde viceja a mata ciliar. Essas áreas específicas evitam a perda de solo e “cuidam” da qualidade e da quantidade de água a ser usada de diversas formas. Interferem numa infinidade de processos físicos, químicos e biológicos que nos trazem satisfações e confortos e garantem que os ecossistemas possam funcionar perfeitamente.

A percepção da importância desses serviços ambientais da natureza pode permitir que a própria tecnologia que dissemina as monoculturas, se volte para corrigir seus erros e equívocos do passado, numa tentativa de convivência mais equilibrada, como manda o bom senso econômico. As cercas com arames não são investimentos “caros” para afastar o gado, como costumam dizer. É antes, interessante meio de “produzir” água, novas sementes, revigorar a fauna, enriquecer o solo, prevenir erosão, conter enchentes, entre outras. Trata-se de investir em ”água” – um grande negócio!. Sem água não há chances de criar nada! Mesmo que você tenha milhares de dólares, eles não farão retornar a água de uma hora para outra. Isso leva algum tempo. E como dizem os economistas: tempo é dinheiro! Então, se não desejarmos perder dinheiro com tempo perdido, devemos aproveitá-lo com algumas medidas que trarão de volta o dinheiro, futuramente.

As áreas protegidas do Brasil - como as áreas indígenas, reservas legais, áreas de preservação permanentes e unidades de conservação - são indispensáveis bancos genéticos de sementes que valem fortunas quando estão transformados em imponentes árvores, cumprindo cada uma os seus respectivos papéis ecológicos.

O papel das áreas indígenas é decisório nesse momento em que temos grandes áreas desmatadas por monocultura e pecuária, necessitando de recuperação no Brasil. Florestas são “fábricas de sementes e mudas” que o mercado está precisando. Os próprios índios serão empresários de suas próprias “reservas econômicas” fornecendo esse material para um mercado que vai crescer rapidamente nos próximos anos. Reservas legais, áreas de preservação permanentes e unidades de conservação podem se transformar em grandes negócios ecológicos, de aceitação pública imediata. Produzir mudas e sementes em hortos municipais, com recursos públicos, também é uma idéia antiga, mas que não existe como realidade na maioria dos milhares de municípios do Brasil. Assim como é possível fazer com o tratamento de resíduos sólidos em “consórcios”, é possível atuar em viveiros de produção de mudas unindo secretarias próximas de áreas protegidas. Vai ser preciso investir em capacitação de pessoal e gerar mais empregos nessa área, prestigiando as profissões envolvidas nesse trabalho. Mais do que um exemplo internacional – os jogos olímpicos estão bem próximos – poderemos construir um modelo de produção comprometido com uma visão que entende a necessidade da existência da complexificação ecológica como a verdadeira fonte lucrativa que alimenta os nossos processos históricos de economia, baseados numa simplificação pragmática e exclusivista.

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